segunda-feira, abril 18, 2011

Aprender o significado da palavra milagre

Dois jovens, um dos quais conheço muito bem e ao qual profundo laço familiar me liga, tiveram há pouco mais de 24 horas um brutal acidente automóvel. Estão já em casa, sem gesso e praticamente sem ligaduras, apenas tingidos por um pouco do betadine tradicional. O aspeto do carro, depois de ser outra vez posto na posição habitual dos carros, isto é, com as quatro rodas no chão, traz-nos à mente a ideia de milagre.
No Facebook de um deles, onde os amigos deixaram mensagens de conforto e solidariedade, eu também deixei lá escrito:
Nestas coisas, há sempre o antes, o durante, o depois... e outra vez o depois. ANTES: "Sei controlar-me, não se preocupem." Concordo contigo, J..., quando agora, depois do que vos aconteceu, dizes: Desenganem-se! DURANTE: "Vou morrer!... Ai que o carro não pára!..." O carro parou, finalmente. Conseguiram sair, que bom! DEPOIS (1): "Ê, pá! Safei-me, estou bem... Que susto!... Bolas!... Que alívio!..." O corpo dói, mas passa com o tempo. DEPOIS (2) quando se está outra vez bem, com os amigos, algumas semanas depois: "Será que eu e os meus amigos aprendemos mesmo com a sorte que eu e o meu companheiro daquela noite tivemos?..." Por favor, J..., não te esqueças mesmo do que aconteceu! E avisa sempre os teus amigos. Dá-lhes o único exemplo que lhes deves dar e não quebres! A vida deles e a tua paz interior agradecem.
Abraço grande, querido J..., mas sem apertar muito, estás ainda muito dorido. ;-)

(adaptado do Facebook para este blogue)

A força de vida do Padre José Fernando

Queridos alunos,
Ao contrário da minha vontade, não pude estar presente na Moagem, no Fundão, no lançamento do livro do "nosso" Padre José Lambelho. Entretanto, com a benevolência e a amizade da dr.ª Maria Antónia Vasconcelos, representante da editora Estrela Polar, pude saudar o Padre Motard, com uma mensagem escrita, que foi lida na sessão por um velho companheiro de aventuras da nossa escola, o agora Comandante da GNR, João Figueiredo.
Com a devida autorização do Padre José Fernando, aqui vos deixo a mensagem que o João Figueiredo leu:
"O primeiro contacto que tive com o Padre José Fernando não foi com a sua pessoa, foi com a sua amizade e com a sua entusiástica força de viver. Mais espantado fiquei com esta força porque tão depressa fui tocado por ela, tão depressa fui informado que o Padre José Fernando era um homem condenado por uma doença irremediável.
É fácil vermos uma criança seduzida pela atenção, pelo carinho, pelo sorriso e pelas palavras amáveis e elogiosas de um adulto, de mais a mais, um adulto que é padre, que é motard, que veste um casaco de cabedal, que aparece na televisão e que arrasta multidões de gentes e de motas magníficas atrás dele. Só que esta criança era uma criança especial, daquelas que também têm alguma coisa de mágico, espalhando vida, espalhando sonhos, ambições e entusiasmos à sua volta. Por isso concluí que o Padre José Fernando teria mesmo de ser uma pessoa especial.
Pouco tempo depois, na escola onde dou aulas, o sonho concretizado a partir do esforço coletivo investido num concurso nacional, pôs-me a caminho de Estrasburgo com colegas e alunos para que estes pudessem ver o seu trabalho consagrado no Parlamento Europeu. À saída do País, na Guarda, constatei que a inquebrantável amizade que os laços fortes da juventude sempre geram ligava, também, mesmo que com a distância de mais de 30 anos, o Padre José Fernando a um dos meus colegas professores participantes na viagem a Estrasburgo. Pela segunda vez, o Padre José Fernando surgia na minha vida social e despertava em mim afetos intensos, agora a partir da presença viva desta amizade de mais de 30 anos entre dois velhos colegas de escola.
Às escondidas, logo mesmo ali, ainda a ver a Guarda atrás de nós, lancei-me num segredo e numa jura com a tal criança, um rapazinho fantástico, amigo do nosso padre: nós os dois congeminámos que os adolescentes seminaristas Lambelho e Acúrcio se reencontrariam muito em breve. Assim o pensámos, assim o fizemos. Foi um acontecimento humano muito rico e muito intenso. Até o conseguimos documentar muito razoavelmente, com uma máquina de filmar discretamente apontada a partir de um canto da entrada de uma pequena sala de espetáculos de uma povoação dos arredores de Lisboa.
Foi nessa altura que conheci a pessoa do Padre José Fernando. Logo aconteceu ele e eu tornarmo-nos aliados na mesma luta, pela saúde, pela vida, pelo bem-estar. A afinidade que nos juntou não tinha a ver apenas com o nome. De algum modo, pudemos espelhar-nos um no outro nas ameaças que as doenças prodigalizam à saúde e à vida.
Hoje, estou em condições de depor as mãos onde quiserem que eu as junte para testemunhar a inteira verdade do que passo já a dizer:
  • O exemplo do Padre José Fernando, na evidência pública que a condição da sua saúde pessoal o mantém, não é a repetição do exemplo do Papa João Paulo II, que suportou estoicamente todo o sofrimento que a vida lhe trouxe nos seus últimos anos de vida;
  • O esforço do Padre José Fernando não é o esforço fantasista, qual fuga para a frente, do doente que nega a sua condição clínica e procura vencer, pela magia ou pela rebeldia, a inexorabilidade do destino que as metástases traçam.
  • Isso sim, o esforço do Padre José Fernando é o esforço intenso e dominado de quem olha de frente para a sua doença e escalpeliza todas as oportunidades de saúde; solicita a firmeza dos médicos e estimula-os a arriscarem um cuidado clínico – novo ou renovado -, onde o cardápio de tratamentos possíveis não mostra mais soluções; sensibiliza os serviços hospitalares para os procedimentos clínicos oportunos, amigos da saúde. Na pessoa do Padre José Fernando, a máxima do “Enquanto há vida, há esperança”, não é apenas um consolo feito de muita fé. É, isso sim, um exemplo tremendo de lucidez pessoal empenhada.
Fernando Pessoa deixou-nos o poeta fingidor que chega a fingir a dor, a dor que deveras sente. Não tenho dúvidas nenhumas que a doença que condena os homens está baralhada com o doente em que o Padre José Fernando se tornou. Já não sabe onde ele sente ou “des-sente”, onde ele dói ou onde ele tenta vencer a doença.
Hoje seremos todos muito amigos e solidários com o Padre José Fernando. Mas, na nau da sua vida, é mesmo ele que vai à proa, é ele que puxa o vento que agita o pano, é ainda ele que vai ao leme.
A gente olha-o e espanta-se com ele. Tão pregados ficamos com a sua força admirável que tantas vezes deixamos por fazer o que tanto bem lhe faria: tocar-lhe os ombros num abraço; mesmo em silêncio lhe mostraríamos o quanto estamos com ele.
A Vida precisa do exemplo do Padre José Fernando! De alguma forma, viver como ele vive, é viver no fio da navalha, tensão que ele todos os dias transforma segundo uma fórmula que ele apurou com a sabedoria que se alimenta da experiência feita: "O dia de Hoje, era o dia de Amanhã, que eu Ontem tanto temia!..."
Querido amigo, consegues sentir, aqui de longe, o abraço do jovem José Geadas, do velho amigo Acúrcio e deste teu homónimo?
Força, hoje e sempre! Vá, não te esqueças, põe aí de lado três exemplares do teu livro, autografado com curvas de letras bem elegantes… e também alguma acelerada vertigem."
Um beijinho de parabéns à jornalista Rosa Ramos pelo papel decisivo na realização de este precioso documento biográfico!

sábado, abril 16, 2011

«Até 100, Deus protege; a partir de 100… pode acolher-nos»

O Padre Motard, recente e muito intenso amigo da nossa escola, lançou ontem, na sua terra, no Fundão, a sua autobiografia, "Padre Motard".
Penso que, a esta hora, já terei um autógrafo num dos exemplares que foram mostrados na Moagem.
Obrigadinho, Zé!
Entretanto, a notícia-entrevista, fresquinha, da Agência Eclésia está muito interessante de se ler:
Padre/Motard: Sacerdote diz que a sua presença é valorizada

quinta-feira, abril 14, 2011

A última viagem do meu tio António na Nau Catrineta

Queridos alunos do 12.ºH, o meu tio António (tio e padrinho), que há muitos anos pegava, em Coimbra, nos sobrinhos e os levava, ao adormecer, em viagens fantásticas na Nau Catrineta partiu hoje na sua última viagem. Deixou-me o leme da Nau Catrineta. Não sei se alguma vez a merecerei como ele sempre a mereceu. Vou tentar. Se alguma vez vocês partirem nela com os vossos filhos, tê-la-ei merecido um bocadinho.
Um abraço muito terno para todos vós, queridos alunos. Mas hoje, o maior de todos vai para o meu padrinho. 
http://web.educom.pt/~pr2003/2000/decc/lendas/nau_catrineta.htm
A minha querida colega Isabela Afra mandou-me, quase sem palavras, a fotografia que agora aqui junto. Praticamente sem palavra nenhuma, ela disse, ou melhor, significou tudo. Um grande beijinho para a Isabela! Beijinhos e abraços valentes para os seus alunos do 7.ºA!

domingo, abril 03, 2011

Os homens, os insetos e a vida... outra vez. Para que não se apague da memória.

Já falei disto aqui, se calhar, a principal diferença entre essa ocasião e esta é que agora são "insetos", já não são "insectos".
Entre ler os outros capítulos todos de "O elemento" de Ken Robinson e Lou Aronica e o Epílogo passou uma semana, durante a qual apresentei numa aula de Psicologia o documentário sobre a vida e a obra de Konrad Lorenz. "A páginas tantas", como se dizia muito no tempo em que dominava a escrita na comunicação da informação, Lorenz afirma (como aqui também já disse) "Aparentemente, tanto a beleza do mundo natural como do mundo cultural são necessárias para manter o Homem espiritualmente são".
No Epílogo de Robinson e Aronica li hoje o seguinte (que também já referi algures num apontamento da Net):
As crises no mundo natural e humano estão relacionadas entre si. Jonas Salk foi o primeiro cientista a desenvolver a vacina contra a poliomielite. Dado que contraí a doença nos anos 50, sinto uma certa afinidade com o que foi a sua paixão de vida. Perto do fim, Salk fez uma observação preovocadora acerca dos tipos de crises ambientais. "É interessante pensar que se todos os insetos desaparecessem da face da Terra, todas as demais formas de vida acabariam num prazo de cinquenta anos." ["if all insects on Earth disappeared, within 50 years all life on Earth would end." ] Compreendeu, tal como Rachel Carson, que os insetos que tanto nos esforçamos por erradicar são fios fundamentais da intricada rede de vida do planeta. "Mas", acrescentou, "se todos os seres humanos desaparecessem da face da Terra, todas as demais formas de vida floresceriam num prazo de 50 anos". [If all human beings disappeared from the Earth, within 50 years all forms of life would flourish.] Numa época como a de hoje, em que as pessoas esquecem muito rapidamente e, paradoxalmente, a Internet se esforça até ao limite para não deixar esquecer nada, com todos os problemas éticos, sociais e psicológicos que disso decorrem, é preciso lembrar, de vez em quando, as palavras do biólogo Jonas Salk.